Eu senti
milhões de coisas por você. Amor, carinho, amizade, cuidado, raiva, dor, mágoa.
Eu repeti pra mim mesma tantas vezes que não podia deixar você me destruir, e
deixei você estragar cada coisa boa que eu via em mim mesma, cada lugar que eu
gostava de ir e cada música que eu gostava de ouvir. Se eu era madura,
inteligente, confiante e coerente, com você eu era só um corpo, completamente
nu, sem o mínimo de lucidez, esperando pra ser moldado. O que eu fiz por você
nenhuma pessoa sã faria. Eu esqueci tanto de mim, esmaguei o meu eu numa
caixinha minúscula pra ser o que você queria, pra ter você por perto. Eu sabia
que eu tinha perdido a minha lucidez, o meu senso crítico, o meu amor próprio.
E eu continuei.
Foi tudo tão cruel. Num dia a gente se tem pra tudo, no outro eu
tô completamente sozinha. Num dia a gente se ama, no outro nem se fala. Num dia
você me quer mais que tudo, no outro você quer tudo mais que a mim. Mas por
tudo que a gente viveu junto, pelas coisas que eu senti e não sei colocar em
palavras, por todas as vezes que a gente voltou um pro outro, eu quase
acreditei.
Eu nunca entendi. Eu passei noites em claro me perguntando por que
você faria uma coisa dessas. Por que qualquer pessoa faria uma coisa dessas? E
como, meu Deus, como alguém conseguiria fazer uma coisa dessas? Eu ficava
pensando como você fez pra fingir aquelas coisas, os momentos que só podiam ser
reais, tinham que ser reais. Se aquilo não era real, o que é? Eu tenho medo,
você me assusta.
Mas eu
desisto de tentar entender, e só aceito. Eu não vou mudar você. Você não vai
mudar. Se você é esse ser humano frio e vazio, se nada que eu fiz ou disse
conseguiu tocar você nem mesmo na superfície, então você não vai mudar, nem
hoje, nem daqui a mil anos.
Eu assisti ao meu amor morrer. Eu vi a sua morte em cada cantinho.
Ele morreu quando eu fiquei chorando te pedindo pra ficar e você foi embora.
Ele morreu quando você teve outra pessoa. Morreu quando você mentiu, quando
você me traiu, quando você disse “eu te amo” e eu chorei porque eu não
acreditava. Ele morreu ontem à noite enquanto eu morria também de dormir
sozinha naquele quarto escuro porque eu só conseguia lembrar que a última vez que
eu tinha estado ali você estava comigo e a gente se amou e se teve e foi tão
forte e eu chorei, porque eu sempre choro. Ele morreu hoje quando eu assistia a
uma série e o cara fez na moça o meu carinho preferido. Morreu. O meu amor
morreu. Morreu tanto. Morreu um milhão de vezes. O meu amor morreu, porque não
há amor que resista.
Por todas as vezes que você me fez gostar mais de mim e por todas
as vezes que você me fez não gostar nada de mim, por todas as vezes que eu
rezei pedindo pra não sentir, por todas as dores de cabeça do dia seguinte, por
todas as lembranças boas, e pelas ruins, pelas vezes que fugimos e nos encontramos escondidos, por
quando vimos o sol se pôr, pelos beijos que você dava pelo meu rosto na volta
pra casa, por todas as mentiras que você contou e eu quis tanto acreditar. Pelo
começo, pelo meio e pelo fim. O meu amor morreu e eu fiz questão que fosse
assim. Porque eu mereço mais.
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