E se eu disser que ainda são seus
os meus domingos, os meus pensamentos, as minhas lingeries novas? Que ainda é sua a
minha cama, a minha casa, os meus beijos matinais? E se eu te disser que você –
só você – ainda pode entrar e pegar qualquer livro na estante sem que eu me
aborreça?
E se eu te disser que nenhuma noitada vale um
filme do teu lado? E que eu me deixo amar, me faço templo do prazer e, embora
não me arrependa, eu gostaria do seu cheiro depois?
Quando a vida arranca alguém da gente – como
me arrancou de você e vice-versa – anuncia-se um luto desesperado, agressivo,
quase desumano. Ele vai passando como se nos aplicassem uma injeção calmante, e
dando espaço a uma dor parcelada, que se arrasta e arrasta a gente junto.
E agora o que eu tenho aqui é uma saudade
calma, melancólica, vagarosa, que vai me rasgando aos pouquinhos como que por
prazer. Não tem choro desesperado – porque, afinal, não é isso a merda da
maturidade? – só tem um vazio estranho do que não foi, do que a gente pensou
que fosse, do que a gente merecia que fosse. Uma saudade lenta, quase uma
cócega, que me afaga quase todas as vezes em que eu entro nesse quarto.
Isso não é sobre finais, ou sobre começos, ou
sobre amores mal resolvidos ou sobre a porra da vida adulta. Isso é sobre
saudade. Essa coisa fria e cruel que nos acalanta e nos apunhala quase ao mesmo
tempo. É sobre querer a tua voz ecoando macia nas nossas madrugadas, sobre o
seu jeito apaixonante de fazer qualquer coisa nessa vida.
Isso é sobre as canções que a gente aprendeu
juntos, sobre as piadas que a gente se conta com os olhos, as noites em que a
gente se abraçava e se curava de qualquer mal que tivesse alcançado nosso dia.
É sobre os seus olhos inconfundíveis, é sobre
a cerveja que a gente não terminou, os filmes que a gente não viu, as festas
que a gente faltou.
Isso é sobre você, como tantas vezes foi.
É que por mais que eu já tenha aberto a porta
pra tantos outros, ainda dói. Ainda é você.
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