Ninguém lida bem com o fim do amor. Nem um Buda saberia se
despedir sem sofrer, muito menos você, que é um ser humano cheio de emoções à
flor da pele. Mas, antes de mais nada, entenda que dor e raiva são dois
sentimentos suportáveis quando separados, mas corrosivos quando sentidos
juntos.
O fim do amor não é quando o
relacionamento acaba. Essa é só a sentença, a
assinatura, a burocracia. O sofrimento já veio antes, mas ficou represado no
comodismo da vida planejada com direito a canteiro de flores e filhos correndo
pela casa. O adeus destrói a contenção e inunda o terreno seguro. Faz a casinha
com goteiras de onde você tanto reclamava se tornar um palácio nas suas
lembranças. O passado não mudou. Mas a sua perspectiva sobre ele, sim.
O
fim do amor embaralha os sentidos. Faz pensar no outro como a melhor criatura
do mundo mesmo quando há tempos você já pensava em partir pra outra. Ele vai
ser o amor da sua vida e todas as vezes que você desejou outro cara vão
desaparecer da sua memória num passe de mágica. Era ele, tinha que ser ele, era
absolutamente certo de que seria ele.
Quando
a raiva sair de cena, quando a vontade de esmurrar a porta passar, no palco
estarão protagonizando juntos, a mesma cena, você e o que você sente. Como numa
dessas peças de improviso, em que nem um nem outro sabem qual é o próximo
diálogo, o próximo movimento. A vida, por um tempo, vai ficar em suspenso. Você
não sabe se vai sentir mais vontade de maldizer o ex-amor ou admitir que ainda
sobrou um resquício da paixão.
Logo
depois vai chegar a vontade da vingança. Você vai aprender a se maquiar melhor,
vai saber a lista das bandas da semana que tocam na cidade. A lista telefônica
vai aumentar, a quantidade de sapatos de salto alto também. A estratégia então
é ocupar a cabeça para despistar o coração. Mas o medo de encontrá-lo a cada
esquina vai fazer parte de você como os cílios postiços.
Não importa quanto tempo passe,
você vai se sentir brutalmente traída quando um novo amor surgir. Vai se sentir ofendida quando ele usar a camiseta que vocês
compraram juntos para apresentar a nova namorada no Facebook.
Também
vai odiar os amigos dele que eram seus, achar absurdo que a mesma banda que ele
cantava pra você esteja sendo entoada pra ela – e não importa se aquele som é o
favorito dele, você vai sentir como se fosse exclusividade sua.
Aí,
aos poucos, a maquiagem vai diminuir, a mágoa também e você vai estar disposta
a conhecer gente nova de verdade. Vai entender que sentir que nostalgia não é
saudade e que lembrar com carinho não significa que você deseje a mesma vida de
antes.
E aí você vai saber que a vida
continua. E daqui a alguns dias você pode precisar ler tudo isso de novo porque
um novo amor vai chegar e vai partir.
Só
então vai perceber que eu menti quando disse que o amor acaba. Ele se metamorfoseia
em lembrança bonita. Mas não acaba nunca porque vai estar em você pra sempre e
em paz. Ainda bem.
~~Marina Melz
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