quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Preciso colocar a cabeça no lugar antes de te colocar na minha vida...

Em uma volta diferente desse mundo, um dia a gente vai se encontrar de novo. Vamos rir do passado e contar como a vida anda. Sem pretensão de continuar, só para falar e falar. Até esse dia chegar já teremos enterrado as dores que vivemos, os machucados já estarão cicatrizados e poderemos voltar a nos ver com o carinho que existia no começo. Lembra? O carinho que pareceu não existir mais no fim.

Me deixa pensar um pouco. Pense um pouco também. Vamos viver. Não somos inimigos. Construímos uma amizade bonita que se transformou em algo ainda melhor de viver, mas as coisas mudaram um pouco do nosso controle. E a culpa não é minha. Nem sua, não é nossa.

O que eu não quero é levar comigo a última lembrança sua – que é justamente a que eu mais quero esquecer. Para o resto da minha vida, o que vou levar será o melhor que eu conheci de você e como de te respeitar passei a te admirar. Eu não consigo odiar quem já amei. Não vou negar, porém, que a raiva que senti pela dor que me causou me fez querer te matar. Mas a raiva o tempo leva e o amor o tempo deixa.

E nessa vida eu só quero ao meu lado os melhores momentos e lembranças. Seria um erro me apegar a parte ruim dos dias que vivi. Seria um erro te julgar como uma pessoa ruim pelos dias tristes. Antes de chorar eu sorri tanto. Antes de terminar, vivemos tanto.

Um dia a gente se encontra. Com menos peso nos ombros e menor pressão da vida. Mas não é um “se encontrar para recomeçar”, é só para ficar bem. Hoje eu não quero mais ter que pensar nessas coisas. O que estou fazendo aqui é ser justo ao ponderar que sofri por você, mas também amei por você. E por isso é preciso ser inteligente e reconhecer que mais do que mal, você me fez bem.

No fundo nós sabemos o quanto ajudamos um ao outro, mas esse pensamento não é o que vai nos sustentar. É preciso mais para uma história continuar dando certo e nós demos tínhamos pouco para oferecer além de nós mesmos naquele momento. Nos faltou o algo a mais.

Um dia a gente se encontra. Preciso colocar a cabeça no lugar antes de te colocar na minha vida.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Mudar não é só futuro, é muito passado também...

Meu quarto virou almoxarifado. As caixas se acumulam e me trazem a sensação de que carrego coisas demais. 
Já ouvi que depois de três mudanças você passa a ter em casa apenas o que é realmente necessário. Não sei quantas toneladas já foram para o lixo desde a primeira, mas sei que cada papel é uma viagem no tempo. A vida passa rápido demais e não existem caixas suficientes para guardar as experiências de alguém – por uma semana ou por um ano, tanto faz.
O meu despego com o guarda-roupas e com a caixinha (pequena mesmo) de maquiagem é inversamente proporcional ao sentimento de gratidão que sinto por cada coisa que eu guardo na estante e no peito.
Ontem, empacotando o que as minhas gavetas generosamente escondem de mim, sofri muito. De saudades, de verdades, dos encontros e desencontros que eu vivi e insistem em me fazer chover por dentro. Do bilhete que meus pais me escreveram quando leram meu primeiro texto no jornal, das cartas entre as amigas da escola e da faculdade, das fotos com a afilhada que eu não vi crescer. Tudo sou eu. Tudo vai comigo onde eu for – num apartamento maior ou na esquina comprar pão.
Trocar de casa é perceber como mudar dá trabalho. Que mudar não é só olhar pra frente e fazer um novo desenho, mas é olhar pra trás, sentir saudades, saber o que de você é o que você quer ser. Mudar é se livrar do que dá, mas manter sempre o necessário para viver e ser completo.
É por isso que eu não acredito que uma pessoa mude de hoje para amanhã. Nem a mim. A decisão da mudança pode ser imediata, mas a verdade por trás dessa decisão só acontece com o tempo. Depois que cada pepelzinho do lar que somos todos nós é revirado do avesso, sentido e, aí então, guardado ou descartado.
Mudar também é jogar fora as mágoas que o tempo permitiu apagar.Porque na hora de mudar você percebe que muita coisa que era indispensável se tornou um peso que você não quer carregar. Às vezes pode ser só mais uma caixa, mas você já tem tanto, não é?
Mudar é sofrer ao mesmo tempo a tristeza do luto e a alegria do nascimento.Mudar é ter pra onde ir, mas perceber que o que você carrega não é apenas a louça ou a saudade, mas é também as fotos da infância e a vontade de começar de novo.
Estou de mudança porque o mundo é um lugar maior do que os meus 54 metros quadrados de apartamento. E também porque chegou a hora de olhar para o dia que vai amanhecer de outra janela. E com os outros olhos.