domingo, 31 de maio de 2015

Tudo o que eu sinto é saudade...

Eu não sabia que doía tanto um porta-retrato, um jardim, um travesseiro… Não sabia que doía tanto ser turista na saudade de quem a gente ama. Não sabia que quando as pessoas se vão, deixam mais de si do que conseguimos suportar. Não sabia que o amor, mesmo com um ponto final definido, deixava tantas reticências.
Às vezes antes de deitar, entre as conversas que tenho comigo mesma, brinco de te lembrar, de ensaiar maneiras novas de te fazer carinho, de beijar tua barriga, morder tua orelha, colocar a mão no teu pescoço, rir da tua cara, brincar com teu nariz… Às escuras, e com o celular pousado no peito, resisto todo dia à tentação de te mandar alguma mensagem sob o pretexto de saber se por caso ainda está acordado. Tudo o que eu sinto é saudade.
Entre um abajur de canto e uma boa música, me deixa lembrar como a gente era carinho. E, mesmo sem motivos para voltar, agradecer baixinho pelos momentos que ainda se fazem eternos. Só, por favor, não me faz silêncio, pois ainda és meu barulho. Mas também, não me sussurra, pois ainda és minha canção. Mas, me deixe lembrar dos beijos, pois já sou todo saudade.
Hoje, a tua saudade tá doendo em mim, e com ela sendo companhia, me lembro, ainda sem saber o que sentir, como dentro de um abraço é sempre quente. Então, apesar da falta que você me faz, que eu não deixe de amar a saudade que tenho, mas que eu saiba deixar que a dor se vá, voante pelo jardim, pelo travesseiro, pelo porta-retrato…

Não me pergunte quem sou, ou como amo. Sou um mistério para mim...

Sou a saudade de um jardim que nunca existiu, de filhos que nem nome têm, de um amor que nunca vivi. Vivo o desafeto de sonhar, sozinha, um amor de cinema. Almejo o inexistente, me digo ser euforia, mas, quando me pergunto se um dia ele virá, transbordo na maldade do tempo.
Estranho dizer, mas a minha melhor parte é aquilo que não sei. Então, antes de vir, não me pergunte quem sou, ou como amo. Sou um mistério para mim. Me desvende, me faça não ter onde me esconder, descubra o amor que há aqui dentro, só não me deixe saber disso. Minta para mim, não me deixe enxergar que estou amando, assim, amo como ninguém.
Fingindo que não sei amar, te digo, não me faça prometer amores certos e responsáveis, me ganhe no silêncio do vivido, se disponha a ver a cidade acender ao meu lado, o vinho se pôr em bocas diferentes e, se possível, me deixar ser eterno por um instante. Não necessito de mais que um instante, pois, preciso te dizer, a eternidade me assusta. O amor me assusta. A assertividade do que sinto me assusta. Me entregar para um coração que não seja o meu, então, se faz apavorante.
O amor, que aqui habita, se faz como um livro, onde poucos foram os que leram algum trecho, e inexistentes foram os que terminaram de ler. Quando sozinho, no silêncio da minha presença, deixo o amor em livro sair. O apanho da estante mais empoeirada da minha livraria e lhe dou a atenção merecida. Pelo menos nas noites em que estamos a sós. O leio em voz alta, para nunca esquecer do que quero sentir, rabisco suas páginas, divido todo o meu eu e, ciente de realmente estar sozinha, choro por somente eu tê-lo lido até ao fim. Depois, o coloco no seu lugar, pois, se eu permitir, ele se deixa ser lido por todos. E, infelizmente, eu ainda não sei dividi-lo…

domingo, 24 de maio de 2015

Mas estou vazia, e eu queria tudo...

E, às vezes, a gente não está esperando, mas chora. Chora como se o mundo fosse acabar, como se não pudesse fazer mais nada. Até pensa: "estou me sentindo sozinha", e como se fosse só mais uma onda qualquer  do "marzão" que a gente vive surfando, a certeza de que, realmente, estou sozinha me invade a alma. E como dói ter essa certeza momentânea; como dói sorrir como se estivesse satisfeita. Quero dizer: Estou satisfeita com a minha saúde, estou viva. Mas estou vazia, e eu queria tudo. Tudo que pudesse me ferir, mas estar vazia não. O vazio é tão sombrio; tão mesquinho; tão sem fim. Não quero ter que acostumar com mais esse detalhe que o "marzão" no dá. Não sei se minha estrutura suportaria. Mas sei que, se fosse receber algum conselho nesse momento, me diriam: "a vida é assim"...